Tema

O blog se trata, de modo geral, do movimento artístico ocorrido entre 1924 e 1945, o Surrealismo, um movimento extremamente contestativo que acreditava no inconsciente aplicado ao cotidiano. Um de seus principais artistas foi Joan Miró, que tinha um estilo artístico extremamente inovador e fora do comum, além de ser uma pessoa de caráter introvertido. Como Miró, com sua estética totalmente diferenciada dos padrões surrealistas conseguiu se destacar entre os membros do grupo? Uma vez que Miró foi um dos mais importantes, mesmo com uma estética fora do padrão, o que caracteriza um movimento artístico?
Além disso, o blog também pretende discutir se o movimento surrealista pode ou não ser considerado datado, ou seja, se só teve sentido na época em que ocorreu.

Um aviso: o blog deve ser lido na ordem do último texto da página para o primeiro.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um Cão Andaluz


Um filme de Luís Buñuel e Salvador Dalí


O trecho a seguir foi escrito por Luís Buñuel para uma exposição no Museu de Arte de São Francisco em 1947, tratando do filme Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou):
“Historicamente, este filme representa uma violenta reação contra o que se chamou, na época, cinéma d'avant-garde, gênero que era dirigido exclusivamente no sentido da sensibilidade artística e do raciocínio do espectador, com seu jogo de luz e sombra, seus efeitos fotográficos, sua preocupação com a montagem rítmica e a pesquisa técnica e, às vezes, no sentido de exibir um estado de espírito perfeitamente convencional e barato. A esse grupo de cinéma d'avant-garde pertenceram Ruttmann, Cavalcanti, Man Ray, Dziga Vertov, René Clair, Dulac, Ivens etc.Em Um cão andaluz, o cineasta tomou posição pela primeira vez num plano puramente POÉTICO-MORAL (o termo MORAL deve ser tomado no sentido do que governa os sonhos ou as compulsões parassimpáticas). Na elaboração da trama, todas as idéias de preocupação racional, estética ou outras com assuntos técnicos foram rejeitadas como irrelevantes. O resultado é um filme deliberadamente antiplástico e antiartístico, quando medido pelos cânones tradicionais. A trama é o resultado de um automatismo psíquico CONSCIENTE e, dentro desse padrão, não procura narrar um sonho, embora se aproveite de um mecanismo análogo ao dos sonhos. As fontes em que o filme vai buscar inspiração são as da poesia, livres do lastro de razão e tradição. Seu objetivo é provocar no espectador reações instintivas de atração e repulsa. ( A experiência demonstrou que este objetivo foi plenamente alcançado).Um cão andaluz jamais teria sido criado se não tivesse existido o movimento conhecido como surrealista, pois sua ideologia, sua motivação psíquica e o uso sistemático da imagem poética como arma para derrubar conhecimentos existentes correspondem às características de toda obra autenticamente surrealista. O filme não tem a intenção de atrair ou agradar ao espectador; ao contrário, ataca-o até onde ele pertence a uma sociedade com a qual o surrealismo está em guerra.O título do filme não é arbitrário, nem resultou de uma piada. Possui estreita relação subconsciente com o tema . Foi escolhido entre centenas de outros por ser o mais adequado. Como curiosidade, vale mencionar que o título chegou a produzir obsessão entre os espectadores - algo que não teria ocorrido se sua escolha tivesse sido arbitrária.O produtor-diretor do filme, Buñuel, escreveu o roteiro em colaboração com o pintor Dali. Ambos partiram do ponto de vista de uma imagem onírica, que, por sua vez, buscava outras através do mesmo processo, até que o todo tomava forma de continuidade. É bom notar que, quando uma imagem ou uma idéia surgia, os colaboradores a abandonavam imediatamente se nascida de uma lembrança ou de sua bagagem cultural ou se, simplesmente, tinha associação consciente com qualquer idéia anterior. Aceitavam como válidas apenas aquelas representações que, embora os comovessem profundamente, não tinham explicação possível. Naturalmente, rejeitavam as limitações da moralidade e razão costumeiras. A motivação das imagens era, ou procurava ser, puramente irracional! São tão misteriosas e inexplicáveis para os dois colaboradores como para o espectador. NADA, no filme, SIMBOLIZA COISA ALGUMA. O único método de investigação dos símbolos seria, talvez, a psicanálise.”


O curta foi produzido na França no ano de 1928. O roteiro do filme foi escrito pelo pintor Salvador Dalí e foi considerado um dos primeiros filmes surrealistas da história, marcado por cenas oníricas e sem nexo entre elas, apenas com o objetivo de despertar emoções no expectador. Além disso explora alguns aspectos da psicanálise de Freud, assim como o próprio surrealismo, deixa explicito também a idéia do subconsciente proposta pelos surrealistas. Como disse Buñuel, “Um cão andaluz não existiria se o surrealismo não existisse”.
Sua estréia foi aclamada pela platéia e pelo grupo de intelectuais, entre eles André Breton. Porém, por ser um filme extremamente inovador, no sentido de que nada parecido nunca havia sido publicado, sua estréia causou uma reação de inaceitação muito forte no público mais conservador.
No filme, Buñuel e Dalí fazem uma série de questionamentos, porém não têm a intenção de respondê-los. Levanta um conceito surrealista de "uma navalhada no olho da sociedade” por meio da famosa cena em que um homem corta o olho de uma mulher com uma navalha. Um Cão Andaluz explora assim os sonhos, o inconsciente, fazendo com que não haja um enredo específico, apenas seqüências de imagens, que é outro aspecto inovador do filme.
Vídeo de uma entrevista dada por Buñuel: http://www.youtube.com/watch?v=qi3d03KaVw8
Fonte:
http://www.pco.org.br/livraria/programacao/ciclobunuel/bunuelfilmehtm?target=
http://www.pco.org.br/livraria/programacao/ciclobunuel/roteiro.htm?target=
http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdefilmes/100439
http://cinephilus.blogspot.com/2004/05/um-co-andaluz-ttulo-un-chien-andalou.html
http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&task=view&id=1936&Itemid=83

A Interpretação dos Sonhos


As idéias surrealistas do inconsciente foram todas baseadas nas teorias de Sigmund Freud (1856-1939), inventor da psicanálise. Sua obra A Interpretação dos Sonhos mudou a maneira de se pensar o homem, trazendo a idéia do inconsciente humano e da vida onírica.
Essa vida onírica seria a vida nos sonhos. Freud acreditava que no sonho realizamos desejos que não podemos realizar na vida real, assim tendemos a esquecê-los, porém nosso inconsciente os manifesta em forma de sonhos. Desse modo, são a expressão mais forte do inconsciente. Os sonhos têm por característica a falta de senso, seguem uma lógica própria, diferente da do consciente, o que causa certo estranhamento ao sonhador.
Há grande divergência de pensamento quando se trata de se a moral de um homem permanece em sua vida onírica. Alguns acreditam que a consciência permanece totalmente silenciosa durante o sono, sendo assim, um homem pacífico por exemplo seria capaz de cometer um assassinato em seu sonho e nem sentir ao menos um sentimento de remorso. Por outro lado, existe uma outra teoria de que as características morais de um homem continuam inalteradas em sonhos. Nesse caso, se o homem citado cometesse tal assassinato, sentiria durante o sonho um forte sentimento de culpa. Freud era partidário de um meio-terno entre essas duas idéias, de que o homem é responsável por seus sonhos, porém não completamente.
Para Freud, existem três mecanismos do sonho. O primeiro é o mecanismo da figurabilidade. Em sonhos, elementos abstratos, sentimentos como medo, ansiedade, entre outros são transformados em imagens. O segundo é a condensação, em que o sonho mistura imagens e acontecimentos aleatórios na vida do indivíduo em um só momento ou imagem. O último mecanismo é o deslocamento, na qual as imagens e o tempo na vida onírica são deslocados, ou seja, acontecimentos passados por exemplo aparecem como presentes.
Os surrealistas, seguindo essas idéias, tentavam expressar muitas vezes o que viam em suas vidas oníricas, como é o caso de Um Cão Andaluz, em que o filme se parece com um sonho. Tentavam, ao resgatar os sonhos, resgatar também o inconsciente, muito expressivo durante tais sonhos. Podemos observar isso evidentemente nas pinturas surreais, que tentam expressar sentimentos através de imagens, além de que apresentam elementos da realidade condensados e deslocados, assim como um sonho.
Fontes:
http://www.comciencia.br/resenhas/sonhos.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud
Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud- Imago editora LTDA.

Contexto Espanhol


O surrealismo ocorreu no período de 1924 a 1945. A França nesse período passava por dificuldades econômicas graças aos estragos causados pela Primeira Guerra Mundial. Quando estava começando a se recuperar com a ajuda dos EUA, houve o Quebra da Bolsa de Nova Yorque, que abalou a economia mundial, incluindo a dos países europeus.
A economia européia melhorou com o surgimento do Nazi-fascismo, que ocorreu principalmente na Alemanha de 1933 até 1945 com Adolf Hitler, na Itália com Benito Mussolini de 1922 até 1943, na Espanha com Francisco Franco de 1936 até 1975 e por fim Portugal, de 1932 até 1974 com Salazar. Porém, mesmo com as melhorias, a Europa a partir de 1939 até 1945 esteve envolvida na Segunda Grande Guerra, o que acabou por piorar sua economia novamente.
No caso da Espanha, entre 1936 e 1939, e tratou de enfrento militar entre o governo fascista e nacionalista de Francisco Franco e a Frente Popular, constituída por comunistas, anarquistas e o governo eleito liberal-democrático. Os nacionalistas de Franco foram que ganharam a Guerra Civil.
Essa guerra civil influenciou fortemente Joan Miró, artista surrealista de origem espanhola, já que a guerra causou sérios danos ao seu país natal, o que foi manifestado em seus quadros, que se tornaram mais agressivos, como por exemplo Homem e Mulher Frente a um Monte de Esterco. Mostrava em seus quadros a situação caótica do país, e sua indignação por esta. Miró era partidário de movimentos republicanos na Espanha, assim, chegou a fazer um cartaz chamado Ajude a Espanha, e com a venda das cópias auxiliava os que combatiam o regime fascista.

Joan Miró (1893-1983)


“Gostei muito do Surrealismo porque os surrealistas não consideravam a pintura como um fim. Com a pintura, não podemos nos preocupar se ela só permanece como é, mas se contém os germes do desenvolvimento, se espalha às sementes que vão fazer germinar outras coisas".
Joan Miró

Miró nasceu na Espanha, em Barcelona. Estudou primariamente na escola de arte de Barcelona, onde iniciou seu contato com o mundo artístico por meio de seu professor, Francisco Galí. Fez sua primeira exposição individual na Galeria Dalmau, porém não foi bem sucedida entre o público, apesar de seus amigos mais próximos terem a apreciado.
Em 1919 partiu para Paris e logo fez amizade com pessoas de sua área, como Pablo Picasso. Um de seus primeiros quadros considerado uma obra-prima foi A Fazenda. Em 1921 fez uma exposição na Galeria La Licorne com os mesmos quadros exibidos na sua exposição em Barcelona, e o fracasso se repetiu.
Quando, em 1924, explode o Manifesto Surrealista, Miró se coloca no movimento devido à possibilidade de “criar a fusão entre imagens poéticas e visuais”. Ao entrar no surrealismo as características das pinturas de Miró já começaram as mudar, o que pode ser observado principalmente em Carnaval de Arlequim e Diálogo dos Insetos. A partir daí, ele começa a crer cada vez mais que o imaginário deve fazer parte da realidade.
Algo que ajudou Miró a entrar em contato com o mundo da arte parisiense e mais tarde com o movimento surrealista foi o fato de ao ter chegado em Paris, o artista fez algumas amizades importantes, como com Riverdy e André Masson, que posteriormente o apresentou a André Breton.
Passou fome por muitos anos, até que em 1923 expõe no Salão de Outono, sendo assim bem sucedido. Em 1925 uma exposição na Galeria Pierre trouxe-lhe seu primeiro êxito, e em 1926, um de seus quadros era um dos principais da Galeria Surrealista.
A partir daí, passa por algumas fases em sua pintura, como a onírica (pinta os quadros com a maior espontaneidade possível) e a fase em que se valia quase exclusivamente da colagem (renegava a pintura e deixou de usar tinta em suas telas). A Guerra Civil Espanhola foi algo que afetou o pintor, mudando a característica de seus quadros para algo mais agressivo. Além disso, com a chegada da Segunda Guerra Mundial, Miró passou a trabalhar em vários outros gêneros como a cerâmica.
Miró chegou a ganhar diversos prêmios, sendo assim reconhecido mundialmente, e em 1983, faleceu.

Origem e Contexto

O Surrealismo foi um movimento artístico e literário que teve início na França em 1924 com a publicação do Primeiro Manifesto Surrealista, criado por André Breton. As idéias foram fortemente influenciadas pelas teorias de Sigmund Freud, e o movimento acredita na importância do inconsciente humano na atividade artística e na vida.
Algo interessante é o fato de os surrealistas acreditarem não no irreal, que é o oposto da realidade, e sim no surreal, ou seja, o sonho e o inconsciente.
Teve início seis anos após o termino da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e passou pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Além disso, ocorreu na Espanha, de 1936 a 1939 a Guerra Civil Espanhola, que chegou a influenciar as pinturas de Joan Miró. Foi uma época de extrema instabilidade financeira na Europa, que estava com sua economia abalada depois da Primeira Guerra e do crash na bolsa de Nova Yorque ocorrido em 1929.
Os principais artistas surrealistas foram Marc Chagal, Salvador Dali, Paul Delvaux, James Ensor, Max Ernst, André Masson, Yves Tanguy, Giorgio de Chirico, Man Ray, René Magritte, Joan Miro, Roland Penrose, Estéfano Viu, Francis Picabia e Pablo Picasso.
Em 1930 André Breton chegou a escrever o Segundo Manifesto Surrealista, que esclarecia os princípios e os ideais políticos do surrealismo, além de tratar dos acontecimentos decorridos da criação do manifesto anterior.
Posteriormente, o surrealismo ele se dividiu em duas vertentes: a Figurativa e a Abstrata. O Figurativo tem como representantes Salvador Dali e Marc Chagall, e tem como características, por exemplo, a distorção de imagens já conhecidas, o exemplo de um quadro é A Persistência da Memória, de Dalí. Quanto aos abstratos, os mais famosos são Joan Miró e Max Ernst, eles acreditavam na radicalização do inconsciente, que a obra fosse feita o mais espontaneamente possível.

Fontes:
http://www.culturabrasil.pro.br/
http://www.wikipédia.com.br/

Salvador Dalí-Gilles Néret, TASCHEN.
Miró-Mestres da Pintura, Abril Cultural.
História Universal da Arte- G.Pischel