Tema

O blog se trata, de modo geral, do movimento artístico ocorrido entre 1924 e 1945, o Surrealismo, um movimento extremamente contestativo que acreditava no inconsciente aplicado ao cotidiano. Um de seus principais artistas foi Joan Miró, que tinha um estilo artístico extremamente inovador e fora do comum, além de ser uma pessoa de caráter introvertido. Como Miró, com sua estética totalmente diferenciada dos padrões surrealistas conseguiu se destacar entre os membros do grupo? Uma vez que Miró foi um dos mais importantes, mesmo com uma estética fora do padrão, o que caracteriza um movimento artístico?
Além disso, o blog também pretende discutir se o movimento surrealista pode ou não ser considerado datado, ou seja, se só teve sentido na época em que ocorreu.

Um aviso: o blog deve ser lido na ordem do último texto da página para o primeiro.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Miró e o Movimento Surrealista




Com o início da 1º Guerra Mundial e o fim da Belle Èpoque, houve uma decepção por parte de diversos intelectuais, com o pensamento de que esse seria o fim do mundo. Com isso surgiram na Europa diversos movimentos artísticos totalmente inovadores e a frente de seu tempo, denominados Vanguardas, que depois se difundiram pelo mundo, criando um novo conceito de arte.
O movimento chamado Surrealismo não se manifestou apenas nas artes plásticas, mas também no cinema, no teatro e na literatura, e permitiu a interligação entre esse quatro tipos de arte. Teve, além de sua estética abstrata e onírica, uma ideologia e uma política, a última expressa pelo segundo manifesto escrito por André Breton.
Os artistas que pertenciam a esse movimento acreditavam que o inconsciente humano deveria ser liberto, sendo assim pintavam e produziam da forma mais espontânea possível. Além disso, tais artistas negavam os valores burgueses. Tiveram forte influência do movimento dadaísta, questionando assim o conceito de arte e sua própria condição como artistas.
Como já vimos, o surrealismo possuía uma determinada estética, marcada, nas artes plásticas, por figuras da realidade deslocadas do contexto e condensadas, além de que as obras tentavam transmitir algum sentimento. Por meio de tais elementos, as pinturas se assemelhavam a um sonho, o que era pretendido pelos artistas, já que era por meio dos sonhos que o inconsciente se manifestava. Essas idéias sobre a vida onírica surgiram por meio de Sigmund Freud, inventor da psicanálise, e aderidas pelos surrealistas.

Ao observarmos pinturas de alguns artistas surrealistas, como Salvador Dalí (sendo ele um dos mais conhecidos), e as compararmos com as obras de Joan Miró, vemos grande diferença, sendo assim difícil associar Miró ao Surrealismo. Mesmo com uma estética que difere dos demais artistas do movimento, foi considerado um dos mais importantes, o que faria portanto, que não a estética, com que esse artista pertencesse ao movimento surrealista?
Miró, ao entrar em contato com o grupo de artistas formadores do movimento, aderiu devido à possibilidade de “criar a fusão entre imagens poéticas e visuais”. O Surrealismo não pretendia considerar a arte como um fim, mas sim como a possibilidade de, por meio dela, se alcançar outras coisas, algo com que Miró concordava. Ele pretendia utilizar a pintura como um meio de alcançar um outro nível, que, para ele, seria a poesia. O Surrealismo portanto era uma forma de ele alcançar isso.
Ele acreditava que havia algo radicalmente absurdo na arte tradicional, em que as obras se assemelhavam a fotos, e que essas pinturas apresentavam uma compreensão deplorável do verdadeiro significado da arte, uma vez pareciam superficiais, falsas.
“O contraste entre o realismo sóbrio das obras originais e a extravagante fantasia de Miró ajudou-o a responder a pergunta: devemos opor o realismo à imaginação, ou são ambos partes complementares da mesma totalidade? Ele estava bem apto a provar que, embora fantasiando, seria capaz de instaurar uma realidade estética válida, compreendida e apreciada como tal.”*
Desde que começou a pintar, Miró sempre possuiu certa revolta aos valores tradicionais da arte. Ao se mudar para Paris, conheceu importantes artistas na qual fez amizade, como André Breton, Paul Eluard e Louis Aragon. Apresentaram o movimento a Miró, que por sua vez, aderiu, se identificando com as idéias surrealistas, presentes no 1º Manifesto. A partir desse ponto, passou a explorar a idéia do inconsciente e sua criatividade, incentivado então pelos artistas que conheceu.
Podemos dizer que Miró foi, entre os surrealistas, um dos que mais foi afundo dentro dos ideais do movimento, e trabalhou com esses do modo mais verdadeiro. Alguns de seus quadros até chegaram a ser pintados durante alucinações causadas pela fome.
É curioso que a estética surrealista seja exemplificada por quadros, por exemplo, de Salvador Dalí, que apesar de um dos mais famosos, não foi a fundo no movimento e teve pouca permanência no grupo, além de ter brigado com parte de seus integrantes. Mas isso não tira totalmente sua importância, uma vez que ele foi essencial à divulgação do movimento, podendo assim ser considerado o publicitário do Surrealismo.
É evidente que Miró possa ser considerado um surrealista, mesmo com a estética diferenciada. Observando suas obras, vemos figuras oníricas, quase como alucinações, vemos sentimentos expressados nessas obras. E, além disso, suas idéias são totalmente compatíveis com as do movimento. Portanto, uma vez que sua estética difere dos demais surrealistas, e ele continua a fazer parte do grupo, é questionável: o que é, e o que caracteriza, um movimento artístico?


*trecho retirado de Miró - grandes artistas, Roland Penrose, Editora Verbo

Um comentário:

Hortencia disse...

Show!
gOSTEI!